Os números vermelhos do relogio digital.
Dou por mim completamente fixada no relógio digital do autocarro e penso
quantos daqueles números vermelhos já passaram desde que fui completamente
feliz. Pondero sobre o que aconteceu até aquele momentos em que olhos fascinada
para os pequenos números vermelhos, perdendo a noção de que já não estou a ver
realmente a passagem deles de segundos a minutos e de minutos a horas, percebo
que estou com a mente adormecida mas ativa ao mesmo tempo e começo a imaginar
ou talvez até prever momentos.
Não vejo como parar o transe que no meio de tanta confusão está realmente a
fazer-me bem, e invento frases feitas para não encarar o facto de não saber o
ultimo momento em que sorri com vontade, em que dei gargalhadas sentidas e
merecidas ou então quando senti que podia sossegar á noite porque a minha
cabeça não tinha mais vontade de pregar partidas.
O eco da minha voz faz-me sair da dormência e reparo que estou a falar
sozinha, que a dormência passou mas o sentimento de pura solidão e tristeza
ainda está cá. Percebo que sou um disco riscado, preso no mesmo sítio pelas
circunstâncias do meu coração, a minha voz falha quando eu tenho algo
importante para dizer, fazendo de mim um corpo com uma mente mole mas
perturbada.
Com tudo os dias vão passando e rapidamente entendo que estou na mesma, que
a probabilidade de avançar é tudo um ilusão, apesar de custar entender a minha
maneira de viver já não há raiva em mim, não há vontade de magoar. O tempo tem
duas caras para pessoas como eu, pessoas que estão a recuperar, uma delas é o
facto de o mundo andar, de os dias passarem a anos e tudo ficar menos baço, mas
a outra cara do tempo é como os números vermelhos do relógio digital da
camioneta...
Vão passando quando estou adormecida pela dor tornando assim difícil de ver
melhorias.
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Isto é como no Face é só meter GOSTO (!) :b